26 de abril de 2011

Minha Vida de Dragonete - Parte V

O Resultado da 1a fase:

Viajar por dois dias a trabalho depois da trabalheira da 1a fase foi um alívio - ajudou a tirar a minha cabeça da expectativa do resultado, até porque acho que quase ninguém acreditava que conseguiríamos.
Ouvimos absurdos de colegas. Ao fazer uma pergunta, durante uma aula, um integrante do grupo ouviu: "E você não está concorrendo ao Dragão? Não é a bam-bam-bam?"
Então, manter a cabeça focada no trabalho e longe do concurso foi um descanso.

Mas ao chegar, recebi uma ligação de uma colega muito ofegante:
"Você teve notícias do resultado?"

"Não, acabei de chegar de viagem e estou me arrumando para ir à aula..."

"ESTAMOS NO DRAGÃAAAAOOOO!!!!!"

Minha cabeça parou por 1 minuto.

Uma coleção criada e produzida em pouco mais de 2 semanas. Com todos os detalhes que ainda iríamos produzir, fazer funcionar, testar! Com 1 look pronto com tantas imperfeições, aos olhos dos mestres.
Mas nós vencemos! Vencemos todas as expectativas e as críticas. Foram muitas.

Saí do quarto gritando e os olhos dos meus pais brilhavam.

No primeiro sábado após o resultado, nos reunimos para traçar o cronograma de trabalho para a 2a etapa. Teríamos um carnaval bem no meio e isso significava, realisticamente, a desconcentração de parte do grupo.

Uma das colegas puxou o trabalho todo para si: conhecia uma costureira que nos ajudaria com algumas peças, conhecia sapateiros que nos ajudariam com os sapatos, seu irmão era Dj e cuidaria da trilha, e ela mesma faria os moldes das peças.
Em tese, tudo estaria pronto em 2 semanas, tempo suficiente para testar tudo antes de viajar para Fortaleza!
Em tese.

O carnaval passou e nenhuma modelagem havia sido feita. Três encontros com a professora de modelagem haviam sido furados. As reclamações sobre falta de patrocínio engessaram parte do grupo e alguns membros até cogitaram não ir, para não ter que tirar do próprio bolso.

Em um projeto como esse, é fundamental que as pessoas SAIBAM que haverá custo. Fazer uma coleção, sair do seu estado, transportar-se, alimentar-se - tudo isso custa. Portanto, é importante avaliar se você têm fôlego para participar, antes de aceitar um convite desses.

Elaboramos ofícios e saímos em busca de patrocinadores. Em 1 mês, conseguimos R$ 70,00 de uma importante marca de sapatos (que são caríssimos, aliás). Ouvimos um sem número de "não é possível", "isso não é estratégico para a minha empresa", "não estamos interessados".

Gente...era o Dragão Fashion Brasil! Estaríamos ali a trabalho, acompanhados por uma professora.
Mas essa foi a realidade da maioria dos grupos que participaram do concurso Novos Talentos.
Quase tudo saiu dos próprios bolsos. Foi chocante, inclusive para o Cláudio Silveira.

Fizemos uma rifa que ajudou as despesas de traslados e alimentação. Conseguimos, no último minuto antes da viagem, uma ajuda de custo com a faculdade e conseguimos nos estruturar para viajar e pagar o grosso do material.  E quando digo o "grosso", significa dizer que fui ressarcida na passagem aérea e no valor dos tecidos; a tinta da minha impressora, meu papel, minha cola, a grana dos estacionamentos das visitas feitas a lojas de tecidos no centro da cidade, ao combustível do meu carro para ir a lojas, ir buscar colegas para prova de roupa, ir à casa da costureira duas ou três vezes, e a das colegas, todo o material de papelaria importante para se ter em mãos num backstage (cola quente, alfinetes, fita etc), tudo saiu do meu bolsinho e não viu a cor do ressarcimento.

Quando se viaja para outro estado, com uma coleção cheia de cerâmica bordada, não dá pra andar de ônibus, com tudo chacoalhando.  Fomos de avião, com as peças mais delicadas em bagagens de mão, ultra embrulhadas em papel-bolha. Ficamos hospedados na casa de um parente de um dos componentes do grupo. Orçamento, paciência e humores apertadíssimos.

Mas esse não era o maior problema: o tempo corria e nada das roupas aparecerem.
A primeira peça que foi entregue à colega modelista apareceu numa segunda-feira, antes da nossa viagem. Eram 7 metros de um cetim aveludado e degradê, belíssimo, que foi cortado aparentemente sem modelagem e costurado com os degradês se chocando. Não tinha nada a ver com o que estava no croqui.
Ficamos sem palavras. O tecido tinha me custado R$279,00. Nem se tivéssemos essa grana, conseguiríamos outra peça, porque o que havia restado na loja, não daria nem para a metade.
Porém, só aí o grupo acordou.

Estávamos a praticamente 1 semana da viagem, não tínhamos a coleção, apenas os tecidos (que eu havia comprado sozinha). Bateu o desespero nas menines, que não entendiam a minha calma. Eu estava calma porque agora o trabalho ia sair.

Os acessórios foram finalizados no sábado pré-viagem. As peças que vieram da costureira-auxiliar não agradaram, mas eram o que nós tínhamos e foram pintadas também no final de semana pré-viagem.
Meu terraço era um emaranhado de cerâmicas, linhas, agulhas, olhos arregalados, respirações ofegantes, tintas e cordões de macramé.

Corremos atrás de trilha, sapateiros, peças de camurça, tintas e tudo o mais!

No domingo, véspera da nossa viagem, passei a tarde toda com a costureira-auxiliar que entregou o vestido de cetim degradê (outra peça comprada - 9m desta vez) e tinha "esquecido" o detalhe do busto e não pensou que "fosse ela a fazer". Nos cobrou R$ 120,00 pelo vestido e não pensou que teria que fazer o detalhe do decote. Vocês também não amam viver nesse mundo?

Além dessa correria toda, várias coisas foram pedidas de um dia para o outro (provavelmente porque a organização cria que nós já tínhamos a coleção prontíssima e estávamos em sessões de relaxamento pré-evento).

Os nomes que ficariam no backstage deram cor à tensão de egos. Uma pergunta ficou na minha cabeça: por quê as pessoas que trabalham menos acreditam com toda a sua fé que devem estar num backstage?

Se não sabem explicar o conceito da coleção, não desenharam os looks, não os produziram, não opinaram sobre os desenhos técnicos ou escolheram tecidos - sequer os compraram. Então, por quê isso?
Mas o que parece surto aconteceu e deu uma baita dor de cabeça.
No fim, todos entraram.
Uns trabalhando, outros tirando fotos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por onde começo a escrever que...estou feliz com o que leio! Parabéns, não desista e força no caminho. Vou me despedindo...