1 de setembro de 2012

Hora da Novela


Ele se deita com uma expressão tristonha
E arrasta a voz pra me dizer que a doença
Lhe atinge os nervos, o ânimo e os humores
A casa silencia e nada se sonha

Pede que aumente a umidade do quarto, diminua a luz
Cubra-lhe as costas e não lhe deixe esquecer
Do remédio para a pressão e do digestivo

Envelhecer sem saúde e sem propósito,
É triste e solitário como não se pode imaginar
É uma curva onde os minutos se prolongam demais

Onde os sonhos já não têm força
Onde as vontades são esquecidas
E não há mais histórias para contar

Cada lembrança é como um corte
Dolorido, desnecessário, injusto
Tudo o que aquele tempo guardava de bom, não existe mais

E o olhar vagueia em silêncio, num mundo de névoa indecifrável
Meu pai, com um olhar cada vez mais firme de despedida,
Me diz para acordá-lo quando a novela começar.