Sentia cãibras em lugares que nunca pensei que pudesse sentir. Mas parte da missão já estava cumprida.
As colegas foram chegando, despachando suas bagagens e o clima foi ficando um pouco mais leve.
Chegamos em Fortaleza e fomos direto para o terraço da nossa "casa emprestada", terminar de bordar cerâmicas e pintar algumas peças.
A noite caiu e nós ainda estávamos ali, com secadores sobre roupas recém pintadas, muitas linhas e agulhas, quase todo mundo com a mão na massa.
No dia seguinte, rumamos cedo para o DFB, já que iríamos fazer a prova das roupas e escolher as modelos que iriam nos acompanhar.
Isto é um backstage: tem glamour suficiente para você?
Conhecemos o talentoso e gente finíssima Ivanildo Nunes, que dava os últimos retoques em sua coleção branquíssima e cheia de rendas - ficamos todas de boca aberta com a simplicidade e beleza das peças e a você que não conhece o trabalho, sugiro que pesquise sobre ele.
Esperamos uma eternidade pelas modelos e quando elas chegaram, nos pusemos rapidamente em ação, uma vez que não poderíamos nos demorar muito e atrapalhar o andamento das coleções do dia.
As moças impressionaram os olhos menos treinados com tanta altura e magreza. Mas faz parte, não é?
Esse é a passarela, ficando pronta
O problema é que algumas peças pediam garotas maiores, com muito peito e isso foi tenso. A primeira modelo que experimentou o macaquinho ficou com o busto todo de fora.
A linda Martha Penz destacou-se na lembrança por sua interatividade e simpatia e o incrível Marcus Marla, stylist que nos ajudou com as modelos, fez mágica para conseguir garotas mais adequadas.
Fada madrinha existe, viu menine? Mas têm que trabalhar bastante, senão não merece a graça!
Registramos os looks e os nomes das garotas em fichas numeradas e corremos para casa, finalizar as peças que necessitavam de ajuste.
A saia usada por Martha Penz nessa foto levou horas para ter sua pintura pronta, e Bruna quebrou a cabeça para apertar - na mão - o macaquinho, que ficou perfeito.
Porém, um incidente de última hora nos despertou na manhã seguinte: a saia de crepe melody recém pintada foi deixada "secando" na área externa da casa! Havia um lindo poodle preso perto dela que teria adorado vê-la voando para seu lado, com a forte chuva que caiu em Fortaleza naquela noite.
O resultado da ousadia: a saia não sofreu uma mordida sequer mas levou chuva e parte da tinta escorreu pela barra branca. Como Deus é Pai, encontramos as tintas necessárias para disfarçar a tragédia. Lá fui eu, na manhã do dia do desfile, pintar a barra toda de branco-amarelado e secar a bendita. Mas funcionou.
Com os looks separados em sacolas, com os respectivos acessórios, rumamos mais uma vez para o DFB, onde fomos direto para o backstage, organizar nosso material.
Cada look é identificado com a ordem de entrada e nome da modelo que vai usá-lo.
A espera foi chata, mas quanto o momento chegou, não levou mais que meia hora :)
As modelos foram chegando e iam direto para o cabelo e maquiagem - não elaboramos nada muito louco, porque nossa coleção era simples de ver e gostar :))
As roupas na arara, separadas pela ordem, tudo organizado.
Conhecemos o grupo que veio do Paraná e compartilhamos a dureza que foi participar do concurso sem patrocínio. Eles tinham R$500,00 para gastar entre os três componentes e foi muito bom para o meu grupo ouvir a história deles: a universidade não deu um centavo, tiraram tudo do bolso, mas estavam determinados a ir e conseguiram ir. Tivemos muita empatia por eles, e muito respeito.
Esse tipo de trabalho tem mesmo esse lance: ou você quer muito fazer, ou fica em casa.
Todo mundo quer trabalhar a criatividade, posar para fotógrafos profissionais e dizer que ficou num backstage, mas poucos saem de casa sob um sol de 40Cº para buscar tecidos ou acordados até as duas e meia da manhã para escrever um release. Ainda bem que o mercado se encarrega desse paradoxo.
A medida que as modelos iam ficando prontas, fomos registrando os resultados, para arquivar junto ao material completo. Olha o make como ficou:
As 16h30 deram o sinal para que começássemos a trabalhar. Todas as modelos chegaram com make e cabelos prontos e pedi que fizessem uma fila na ordem dos looks. Porém, algumas garotas chegaram feito ninjas e se puseram a nos "ajudar"; foram pegando as roupas na arara e eu pedi socorro, porque teríamos que conferir os acessórios para ver se estavam na ordem correta. Tenso, sem necessidade.
As modelos já enfileiradas na ordem de entrada - e a gente acompanha o desfile pelo monitor
(e reza...muito).
Só uma mãe descreveria o que senti ao ver as modelos enfileiradas com a primeira coleção a postos...
Então, já tínhamos público e horário para começar. Cláudio Silveira chegou, pondo ordem na casa enquanto alguns fotógrafos faziam seu trabalho, com as modelos e conosco.
Então, as 17h, o Cláudio deu sinal ao Dj para iniciar. A platéia estava lotada e ficamos bem nervosos.
A música começou e as garotas começaram a entrar, uma a uma. Olhos fixos no monitor, lamentando a presilha de cabelo da primeira modelo caída na passarela e uma das sandálias de laço que desceu perna abaixo - mas até que a assimetria me agradou - e fim!
São 5 minutinhos de desfile, justificando todas as noites mal dormidas, dinheiro gasto, discussões e caras feias, correria - muita correria.
Depois que todas as modelos voltaram à passarela, entramos também.
Muitos aplausos, gritinhos, acenos para a coordenadora do nosso curso, que estava na platéia, com um sorriso de orelha a orelha e saímos comportadamente, para pular, gritar e chorar no backstage - depois de ver outros grupos passando, tive a certeza de que muita gente conseguiu ouvir a balbúrdia :))
E é isso o que um trabalho bem feito faz:
A profa. emocionada me dando um power abraço \o/
Às modelos e a equipe do DFB...
...nossos agradecimentos sinceros. Foi um grande momento.
Ao grupo de Dragonetes e à professora Cláudia Cyléia, meu eterno agradecimento e carinho.
FIM