Ele se deita com uma expressão tristonha
E arrasta a voz pra me dizer que a doença
Lhe atinge os nervos, o ânimo e os humores
A casa silencia e nada se sonha
Pede que aumente a umidade do quarto, diminua a luz
Cubra-lhe as costas e não lhe deixe esquecer
Do remédio para a pressão e do digestivo
Envelhecer sem saúde e sem propósito,
É triste e solitário como não se pode
imaginar
É uma curva onde os minutos se prolongam
demais
Onde os sonhos já não têm força
Onde as vontades são esquecidas
E não há mais histórias para contar
Cada lembrança é como um corte
Dolorido, desnecessário, injusto
Tudo o que aquele tempo guardava de bom,
não existe mais
E o olhar vagueia em silêncio, num mundo de
névoa indecifrável
Meu pai, com um olhar cada vez mais firme de
despedida,
Me diz para acordá-lo quando a novela
começar.